segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Ter tempo

Respira o som ondulante carregado nas ondas do mar,
desliza suavemente a mão pelo revolta da água.
Sente o frio nos pés, o sentir enouriça o gesto.
Mantém-se ainda assim quieto, compreende que permanecer é amar,
só partir inunda o areal da mágoa, dá-lhe forma – só existindo se pode minguar.

Vem o vento ao encontro do corpo testo,
encontra-o no horizonte da vida.
Carne mirando a luz perdida, como se do tempo fosse testamenteiro.
Repara em nada pois nada existe merecedor de reparo - o nada é um reparo.

Dança o Espaço a sua piloura.
Serve-se da melancolia para o quodore:
- Entrego-te o sopro nas mãos, deixo-te o sal na pele. Quando um dia me quiseres atira o sopro ao ar e larga o sal no mar. Avisando-me, entrego-te o tempo e o céu, derreto para ti a porta do quintal onde sem ti tudo nasce mas não nasce o que queres...
- Como ter, saber ou poder? Se me arruíno no horizonte de ilimitados caminhos, reflexo de tantos mares perdidos em mansos oceanos, determinados no sustento da vida que deles brota não prestando atenção aos pés molhados.

- Olhar para baixo é já de si a procura de um caminho. Se esse não te agrada levanta a cabeça!

Ficou o tempo e o espaço na companhia do mar, o vento sopra o sal no torso das ondas. O areal não rejeita a doce carícia do turbilhão, rola e enrola.
O destino também se molha como uma folha de papel.

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